ARTIGOS
2012
Verdades e Meias Verdades
Filmes, reportagens ridicularizando, outras mistificando, quilos de
livros, documentários, alguns sensacionalistas e outros puramente
científicos... São tantas as informações sobre 2012 que, mesmo se não
fossem contraditórias, seria quase impossível, para quem hoje pega este
bonde andando, conseguir encaixar os fatos num padrão lógico e chegar a
alguma conclusão razoável. Nesta verdadeira feira livre, com ofertas dos
mais diversos gostos lançadas em altos brados, se torna fácil empacotar
o tema como um subproduto de esquisitice e guardá-lo na pasta
"maníacos, esquizofrênicos e teorias conspiratórias", destinando-o ao
arquivo morto ou à lixeira.
Enfim, quais são os fatos e quais as teorias sobre a previsão de catástrofes globais em 2012 dignas de consideração?
O Calendário Maia
O primeiro ponto a esclarecer é: o Calendário Maia não fala em fim do
mundo, ao invés disso, ele prevê para algum momento que se calcula ser
em fins de dezembro de 2012 o fim da última "grande era". Quanto a o que
viria depois, até onde os parcos códices que escaparam da sanha
incendiária dos bispos espanhóis podem indicar, os maias não se
aventuraram a dizer. Todavia, se o fim de uma era já é entendida como um
momento de mudanças rápidas e profundas, o que poderíamos esperar do
fim de uma grande era?
Para referência do leitor, vale referir que o início da atual era no
calendário maia coincidiu com a chegada dos espanhóis na capital do
império asteca. Isto representou não apenas uma radical mudança no
sistema político, mas também nas crenças religiosas. O previsto retorno
do Deus Quetzalcoatl, representado há então centenas de anos como de
pele branca e barba em um continente de população de pele vermelha e
imberbe, de fato ocorreu, conforme a iconografia cristã.
Mas as modificações vão muito além da chegada do cristo e da coroa
espanhola. Conforme constatado por Jared Diamond, autor de Armas, Germes
e Aço, mais que as espadas dos mercenários, as doenças trazidas pelos
europeus espalharam a morte entre os nativos, ceifando a vida de milhões
e atingindo mortalmente o sistema produtivo local, que era baseado no
trabalho, ao invés de no capital.
Sofrimento à parte, nossas observações podem caracterizar globalmente a
era maia atual como a era da supremacia do conhecimento científico e do
materialismo. Afinal, não foi o idealismo de Cristóvão Colombo que
pautou a colonização das Américas, mas o oportunismo materialista dos
monarcas europeus, inicialmente ansiosos por ouro e posteriormente por
mercados produtores e consumidores.
Ora, considerando o que tem sido esta era, talvez uma mudança radical
nos seja muito bem vinda...
Mas como alterar um sistema já tão consolidado senão pela ocorrência de
desastres globais jamais presenciados por esta civilização?
O espaço para a imaginação é livre...
As Manchas Solares
Manchas solares são regiões do Sol, usualmente muito maiores que
qualquer dos planetas deste sistema solar, com temperatura
consideravelmente mais baixa que o resto da superfície solar. Em função
desta diferença de temperatura, apresentam-se relativamente escuras.
Acredita-se que a ocorrência de manchas solares seja devida a flutuações
de seu campo magnético, mas ao par de quaisquer teorias é um fato que o
surgimento de manchas solares ocorre em ciclos de cerca de 11 anos
(ciclo solar de Schwabe), com variação aproximada de dois anos para mais
ou para menos. Dentro de tais ciclos, períodos de mínima solar (com
número pequeno de manchas solares) precedem períodos de máxima solar
(com grande número de manchas solares).
Conforme as autoridades científicas da área, em outubro de 1996
iniciou-se um período de mínima solar. Isso nos levaria a supor que até
2007, o mais tardar 2009, se iniciaria um ciclo de máxima solar. Em onze
de dezembro de 2007 foi observada uma mancha solar de polaridade
inversa (no hemisfério solar contrário à localização das manchas
anteriores), o que caracterizaria o início de um novo ciclo e projetaria
um período de máxima solar para 2011 ou 1012, entretanto a pequena
quantidade de manchas solares desde então indicou que uma anomalia
desconhecida estaria ocorrendo. Conforme noticiado pelo observatório
solar SOHO, das agências espaciais americana e europeia, o ano de 2008
foi o ano com menor número de manchas solares desde 1913. Diante deste
quadro, projeta-se o novo período de máxima solar para 2013.
Ora, estamos abordando a questão manchas solares pelo único motivo de
que nos períodos de máxima solar o Sol lança ao espaço partículas de
energia em tempestades solares que, eventualmente, podem atingir o
planeta Terra. Uma tempestade solar convencional chega à potência de
100 bilhões de vezes à da bomba atômica lançada sobre Hiroshima, mas
dada a distância entre o Sol e a Terra, o impacto não é sentido, porém
tempestades solares podem originar rajadas de raios X que ionizam as
camadas externas da ionosfera, liberando elétrons que interferem nas
ondas de rádio, prejudicando as comunicações.
Viajando à velocidade da luz, os raios X provenientes do Sol alcançam a
Terra em aproximadamente oito minutos, mas a massa coronal expelida em
explosões solares leva cerca de quarenta e oito horas para chegar à
Terra.
Conforme a configuração do campo magnético interplanetário, a massa
coronal ejetada pode ser repelida pela magnetosfera terrestre ou
conectar o campo magnético da Terra com o do Sol. No segundo caso, além
de uma bela aurora boreal/astral, a magnetosfera terrestre é
sobrecarregada de eletricidade, danificando satélites, aquecendo a
atmosfera. O aquecimento da atmosfera a leva a se expandir rapidamente,
podendo alcançar a órbita de satélites artificiais e assim reduzir sua
velocidade, o que, se não for rapidamente compensado, pode até mesmo
derrubá-los.
Ao mesmo tempo, uma corrente elétrica pode se formar na ionosfera a partir dos polos e sobrecarregar as redes elétricas.
Muito embora os cientistas afirmem que jamais poderia ocorrer um evento
solar de magnitude suficiente para por em risco esta civilização, foi
registrado em 1º de setembro de 1859 uma explosão solar tão intensa que
as auroras deixaram de ser polares, atingindo latitudes tropicais. As
linhas de telégrafo, meio de comunicação da época, pegaram fogo, caindo
sobre o mato e causando grandes incêndios, os telegrafistas que estavam
operando sofreram choques elétricos.
Vale lembrar que linhas de telégrafo eram talvez a única tecnologia da
época que poderia ser danificada por uma super explosão solar, mas neste
momento, aviões e navios orientados por GPS, satélites e laboratórios
espaciais, linhas telefônicas e elétricas, torres de TV e de telefonia
celular, automóveis, computadores, enfim, quaisquer equipamentos
elétricos não só ficariam inoperantes como seriam potenciais fontes de
acidentes.
Pitoresco ler artigos de cientistas explicando os fenômenos solares e
afirmando que não poderiam dar causa ao fim da civilização. Como se o
fato de compreender o funcionamento de tais fenômenos os tornasse menos
perigosos...
Desequilíbrio Ambiental Global
Ao mesmo tempo que alertam sobre a necessidade de preservar os
ecossistemas, autoridades políticas informam que as alterações
climáticas que vem acontecendo são locais e que a elevação da
temperatura média global é ínfima, incapaz de afetar significativamente o
equilíbrio ambiental global. Afirmam ainda que os desastres ambientais
que ocorrem ao redor do mundo sempre ocorreram, mas que com a melhoria
dos sistemas de comunicação, em especial o surgimento da Internet, hoje
tomamos conhecimento de eventos ocorridos no outro lado do planeta em
poucos minutos, e que os fenômenos que presenciamos podem ser uma
novidade em termos dos últimos séculos ou milênios, mas que não
constituem anomalia considerando-se o que já houve ao longo da história
do planeta Terra.
Mesmo concordando que as mudanças climáticas são graves, os cientistas
afirmam que a elevação do nível do mar será lenta o bastante para não
surpreender quem more na costa, mas alertam que diversas cidades
litorâneas ficarão parcialmente submersas caso o derretimento do gelo
nos polos não seja combatido. E a cada ano as estimativas de
derretimento dos pólos é reavaliada para pior.
Poderíamos citar a palavra de vários cientistas que confrontam
corajosamente o discurso oficial "anti alarmista", mas as melhores e
mais eficazes contestações de teorias infundadas são os fatos e a
experiência pessoal. Não há registro anterior a 2004 de ciclones
extratropicais nem de ciclones em território brasileiro, todavia, para
surpresa de todos, o Catarina varreu o sul do Brasil naquele ano e
outros furacões extratropicais se sucederam ao longo desta década. No
ano anterior ao Catarina, o Katrina devastou Nova Orleans, enquanto nos
locais onde furacões já eram costumeiros seu número e potência
aumentaram. Segundo a revista Scientific American Brasil (Especial
temática - Extremos do Clima 1), houve oito tempestades de categoria 5
no Atlântico entre os anos 2003 e 2007, contrastando com apenas quatro
nos vinte anos anteriores. Em 2007, pela primeira vez desde que se tenha
notícia, dois furacões atingiram o solo de um continente ao mesmo tempo
(Henriette e Félix), causando vastos prejuízos no México, Nicarágua,
Honduras e El Salvador. Nesta década observamos as neves eternas do
Kilimanjaro deixarem de ser eternas, estações de esqui nas Américas e na
Europa reduzirem sua temporada cada vez mais, fotos da estação de
pesquisa antártica usada por cientistas brasileiros mostrar um solo de
pedra onde antes, mesmo no verão, só havia gelo. Dos Andes ao Himalaia, a
neve que antes se acumulava começa a encolher a cada ano ou, no mínimo,
derreter mais cedo. Incêndios, alagamentos, terremotos, tsunamis
viraram o dia a dia no planeta Terra e situações climáticas extremas
estão começando a se tornar corriqueiras em diversas partes do globo.
O fato é que a pequena variação da média de temperatura anual global
oculta violentas variações climáticas que também são novidade e que
estão na origem tanto dos furacões extratropicais (hoje relativamente
corriqueiros) quanto de secas e alagamentos em locais inusitados ou com
violência inédita. A seca de 2005 em plena floresta amazônica, por
exemplo, não é um fenômeno isolado. Em 2009 o Rio Negro, afluente do
Amazonas, teve uma cheia que bateu seu recorde histórico. No ano
seguinte, 2010, a seca fez o Rio Negro bater seu recorde de cota mínima,
levando cerca de 65% dos municípios do Estado do Amazonas a declararem
estado de emergência.
Alguém poderá dizer que em 1963 a Amazônia também penou com a seca, que o
fato de em 2005 ter tido uma seca demonstra que o fenômeno não é
anômalo. Mas devemos lembrar que 1962 não foi um ano de cheia recorde.
Isso é, definitivamente, uma novidade.
Poderão também dizer que na Idade Média, há cerca de mil anos atrás,
houve um recorde no número de furacões, mas desde que o ser humano se
lembre, nunca houve furacões extratropicais nem dois furacões ao mesmo
tempo num só continente, nem um calor de 38ºC na Inglaterra ou uma
passagem navegável entre a Rússia e o norte do Canadá dentro do círculo
ártico ou uma inundação que gerou US$100 bilhões de prejuízo como o Katrina.
O desequilíbrio ambiental é um fato que todos nós podemos verificar, e cada vez mais afeta a produção mundial de alimentos.
É uma questão de pouco tempo até o ser humano se ver forçado a rever sua
escala de prioridades e tornar a ver nos alimentos seu bem mais
precioso.
Perspectivas da Bruxaria Ancestral para 2012
Há três posicionamentos padrão diante das previsões para 2012: 1)
considerar que nada acontecerá; 2) considerar que ocorrerá alguma
catástrofe global; 3) considerar que nascerá uma nova consciência que
mudará o mundo para melhor.
A bruxaria ancestral tem como princípio que tudo que existe no universo
segue um fluxo que compõe parte do que chamamos de a Dança da Deusa,
conceito a grosso modo semelhante ao princípio hermético do ciclo (tudo é
cíclico). Sendo assim, aceitamos não só que a civilização como a
conhecemos um dia sucumbirá para dar espaço a uma outra forma de
civilização, mas também que acidentes de proporções globais que já
aconteceram diversas vezes no planeta Terra, alterando sua face, e que
são plenamente capazes de destruir as bases desta atual civilização,
tornarão a acontecer um dia, e novamente e novamente.
Argumentar que o número de vítimas ou os prejuízos financeiros de
catástrofes climáticas recentes só são tão grandes porque o mundo de
hoje é muito mais rico e populoso que o de antigamente é infrutífero. O
fato é que ao mesmo tempo em que o desequilíbrio climático aumenta,
contingentes humanos cada vez maiores se encontram vulneráveis a
enchentes, furacões, insolação, secas, incêndios, tsunamis e outros
eventos naturais. O mesmo acontece com a tecnologia que nos permite ir
muito além dos limites de produção anteriores ao século XX. Com o uso
generalizado de eletricidade, componentes eletroeletrônicos, recursos
computacionais e tecnologia de informação por satélite, nunca os
equipamentos utilizados pelos humanos foram tão vulneráveis a fenômenos
naturais e nunca o ser humano foi tão dependente de tecnologia quanto é
hoje, tanto individual quanto globalmente. Ainda podemos constatar a
fragilidade da economia globalizada, pela interdependência de mercados
produtores e consumidores para manutenção do equilíbrio.
Por fim, para citar dois eventos catastróficos ainda não mencionados
neste artigo, uma explosão de supervulcão, que cedo ou tarde ocorrerá,
pois faz parte da história da Terra, ou a queda de fragmentos de cometa
como a que recentemente ocorreu no planeta Júpiter, outro evento nada
raro quando contabilizado em eras geológicas, onde quer que ocorressem
na face do planeta seriam o bastante para levantar à atmosfera uma nuvem
de aerossóis e poeira que destruiria todas as safras a céu aberto do
mundo por meses. O ser humano poderia sobreviver a isso, mas a
civilização humana não.
Ora, temos o desequilíbrio ambiental como um fato, o que por si só é
preocupante, mas aliado a isso temos a civilização dependente de
tecnologias como os computadores, energia elétrica e eletroeletrônicos
em geral, que podem ser mundialmente atingidas por um vento solar como o
de setembro de 1859, capaz de destruir quase totalmente a capacidade
produtiva dos países industrializados quiçá até os registros bancários!
E numa noite de céu iluminado por luzes feéricas todos contarão com
pouco mais que suas moradias, seus braços e pernas para subsistir.
Quantos conseguirão? Quantos entrarão em pânico e se tornarão violentos?
Em 2012 acontecerá algo assim?
Isso ninguém pode garantir, mas todos percebemos que estamos nos
aproximando em velocidade exponencialmente crescente de uma situação
limite, tanto de sustentabilidade climática/ambiental quanto de
possibilidades de produção e consumo. Refiro-me ao fato de que as
projeções de crescimento econômico parecem ignorar que, ao contrário do
que seria de se esperar, o ganho de produtividade propiciado pela
tecnologia não reverte em liberação da mão-de-obra para tarefas
filosoficamente mais elevadas ou gratificantes, mas em mera acumulação
de capital que por sua vez torna necessário um novo aumento da produção.
E a roldão da tecnologia o ser humano é forçado a produzir cada vez
mais, ou seja, a comprimir em sua jornada de trabalho uma produção cada
vez maior. Na outra ponta, o lançamento de novos produtos e a
atualização tecnológica dos já existentes incrementa a necessidade de
consumo. É hora de lembrar que todo império que não conhece limites
acaba ruindo em função de seu próprio agigantamento.
Em suma, nos parece haver diversas forças e eventos que se combinam para
dar um término a esta era de materialismo. O surgimento da física
quântica, o resgate do paganismo, a difusão do acesso às terapias
alternativas são alguns dos elementos que fermentam o surgimento de uma
nova civilização; o desequilíbrio climático, o esgotamento da capacidade
produtiva da mão-de-obra e a incapacidade dos governos de desempenhar
seu papel, fato evidenciado na terceirização dos serviços de saúde,
manutenção de estradas, ensino e segurança privada, dentre outros, são
catalizadores do esfacelamento desta civilização.
Alteração radical de condições ambientais em diversas partes do mundo,
mega tsunamis em áreas densamente povoadas, explosão de supervulcão,
queda de algum grande meteorito, mega vento solar atingindo a Terra,
ninguém contesta que um destes eventos ocorrerá. E basta fazer um
pequeno esforço de imaginação para concluir que a civilização atual não
seria capaz sobreviver a qualquer deles.
Por fim, podemos inverter um pouco a lógica e nos perguntar: se já
vivemos uma crise ambiental global, se a civilização atual está ruindo
sob a ditadura do capital (damos nossas vidas pelo dinheiro), se novas
formas de perceber o universo estão se alastrando tanto entre os
religiosos quanto entre os cientistas, por que dezembro de 2012 não
seria uma data aceitável para uma virada?
Como se vê, não se trata nem mesmo de uma profecia, afinal ela não prevê
desastres. Se o ser humano chegou a propor que o fim do Calendário Maia
é o fim do mundo é porque ele percebe que existe muita coisa fora do
lugar, que a civilização se transformou num castelo de cartas, e que o
menor vento que o atinja o fará em mil pedaços. A segunda e a terceira
propostas são conciliáveis: ocorrerá alguma catástrofe global e em meio à
crise que gerará muito sofrimento, uma nova consciência começará a se
espalhar, encerrando a grande era do materialismo. A primeira proposta é
um resguardo: pode até não acontecer em 2012, mas é bem razoável
inferir que não iremos muito além.