ARTIGOS

A Vida de uma Bruxa


Ao se ouvir falar em bruxa, qual a imagem nos vem à mente? Uma jovem nua colhendo ervas no campo com sua foice prateada? Uma mulher preparando poções em seu caldeirão? Uma senhora servindo chá curativo e lendo a sorte no tarô?

Sabemos que o perfil de bruxas de verdade atuais não se resume a tais estereótipos, mas, então, como é, hoje em dia, a vida de uma bruxa?

Raríssimas exceções à parte, bruxas e bruxos, desde criança, são submetidos aos mesmos desafios e preocupações de pessoas de outros credos. Precisam estudar, passar no vestibular, namorar, conseguir um bom emprego, trabalhar duro, ganhar dinheiro para se sustentar, criar uma família, ajudar os filhos a se colocarem na vida...

Cada drama comum na vida de não bruxas pode ser encontrado em igual proporção na vida de pessoas não bruxas. Todos sofrem traições, decepções, doenças, dificuldades financeiras; todos penam com chefes narcisistas e incompetentes, professores que descontam suas frustrações pessoais nos alunos, colegas que criam intrigas...

Então, o que as bruxas têm de diferente?

Algumas se vestem quase sempre de preto, mas o ditado católico também vale para nós: o hábito não faz o monge.

Bruxas celebram a Roda do Ano e a maioria também celebra a Lua Cheia, porém, as celebrações propriamente ditas não são exatamente um modo de vida, são apenas festivais.

Preparam chás, alimentos enfeitiçados e misturas de incenso que curam e alteram o psiquismo das pessoas, entretanto, quem não domina bruxaria também toma e oferece estimulantes como café e chimarrão, prepara iguarias afrodisíacas para jantares íntimos, se perfuma para se tornar mais desejável...

Há alguns métodos, todavia, que são diferentes entre bruxas e não bruxas. Por exemplo, enquanto não bruxas consultam seus analistas e amigas, bruxas consultam oráculos, as Deidades, os espíritos e/ou os mestres; enquanto não bruxas promovem movimentos contra seus inimigos, bruxas usam feitiços de banimento; mas em essência, o uso de tais instrumentos não caracteriza uma bruxa e está longe de ser rotineiro, como o vulgo imagina ser.

Retornamos, então, à dúvida inicial: como é a vida de uma bruxa?

É igual à de uma pessoa não bruxa. Ambos passam pelas mesmas etapas, sofrem os mesmos dramas e usam recursos similares. Mas há uma diferença fundamental entre a vida de uma bruxa e a de uma não bruxa: a forma como ela vê o mundo à sua volta. E quanto mais aprende uma bruxa, mais sagrado seu mundo profano se torna. As paredes de alvenaria se tornam barreiras transponíveis, a poluição se revela como mensageira do fim de uma era, as flores que rebentam entre a calçada e asfalto formam gotas de luz que escorrem dos olhos da bruxa e o céu e a Terra se tornam, enfim, maiores que a cidade.

Enfim, àqueles que se queixam de falta de tempo para praticar a Arte, deixo uma fração da sabedoria verdadeira de um mago de ficção, Gandalf o cinzento: "Não importa quanto tempo temos, o que importa é o que fazemos com o tempo que nos é dado."

Traduzindo para o caso específico, vivam a vida de uma bruxa e já estarão caminhando na Arte. Parem de classificar o mundo, percebam-no como ele é!