ARTIGOS
Entremundos - Substantivo Masculino
Entremundos não se encontra dicionarizado, mas todo estreante na bruxaria usa o termo como se o conhecimento de seu significado fosse banal. Mal talham seu primeiro círculo e já saem repetindo mecanicamente, seguindo a receita de bolo: "estamos num espaço entre mundos!!!" E mesmo quando não são eles a talharem, acreditam em quem o talhou, e se consideram no entremundos...
Acham mesmo que isso é verdade?
O que é, exatamente, o entremundos?
Como podemos saber se estamos/estivemos ou não no entremundos?
A banalização de rituais é tão avassaladora que, como crianças que brincam de polícia e ladrão e depois saem às ruas com uma estrela de xerife na camisa, adolescentes e adultos passeiam por toda a parte fantasiados de bruxos, com um pentagrama reluzindo no peito, sem terem vivenciado efetivamente a experiência mais banal, porém fundamental, da vida de um bruxo: entrar e sair do entremundos.
Partamos da etimologia: entremundos se compõe da contração das palavras entre e mundos, significando, a priori, um "espaço" entre o mundo físico e o mundo espiritual.
Tal definição parece satisfatória para quem não viveu a experiência de estar no entremundos, mas quem já "esteve lá" sabe que não há um "lá" para estar, pois o mundo espiritual não pertence ao espaço-tempo, não tem existência física que permita que o entremundos ser um "lá".
Ora, mas se o entremundos não é um "espaço", ao contrário do que afirmam as palavras receitadas nos manuais wiccanos, o que é?
Simples: um estado alterado de consciência que nos permite perceber, ao mesmo tempo, o mundo físico e um mundo supra físico.
E então, ainda acham que é só uma questão de estar do lado de cá da linha do círculo? De participar de um ritual? Que todos os presentes em rituais bruxos atingem um estado alterado de consciência específico?
Ao menos no que diz respeito aos rituais públicos, já que dos privados nada podemos falar, a regra é que sequer o sacerdote que o direciona, por mais experiência que tenha, consegue alterar seu estado de consciência significativamente, tendo junto a si tantos iniciantes e curiosos.
Fala-se em entremundos e os leigos e iniciantes imediatamente pensam em rituais de sabates e de esbates. Não se dão conta de que, antes que possam usufruir dos benefícios de participar de rituais como estes, precisam aprender a adentrar o entremundos, e não serão alçados nem empurrados "para lá" em meio a um grande grupo com pouca experiência.
Compreender o entremundos como um estado alterado de consciência pode ser correto, mas esta descrição é ampla demais para identificar o significado deste substantivo masculino, muito menos nos permite saber quando estamos ou não em tal estado alterado de consciência. Se registrássemos o comprimento de ondas cerebrais, novamente não teríamos um padrão exclusivo, temos que lançar mão de outros recursos para compreender o entremundos.
Já dissemos também, em outras palavras, que o entremundos pertence ao mundo físico e a um mundo supra físico ao mesmo tempo, desta forma, quem estiver no entremundos terá consciência tanto de um quando do outro mundo. A noção de espaço-tempo será completamente alterada, uma vez que apenas um destes mundos pertence ao espaço-tempo. Em termos práticos e objetivos, isto significa que quando estamos no entremundos o tempo não passa, mas quando saímos dele, às vezes temos a impressão de que ficamos mais tempo e às vezes temos a impressão de que ficamos menos tempo no entremundos do que o relógio nos diz. Da mesma forma, o que vemos, ouvimos e sentimos no entremundos não sofre as limitações do tempo e da matéria.
Muito bem, reconheço, ainda não fomos específicos o suficiente para definir entremundos. Talvez a única forma de entender o significado desta palavra seja mesmo ter a experiência de estar no entremundos...
Mas se participar de um ritual bruxo não é o meio de acessar o entremundos, como aprender a fazê-lo?
Ah, isso é uma outra história...
