BRUXARIA ANCESTRAL

Crença Fundamental      Raízes      Princípios      Festivais      Prática

Quem são as bruxas? De onde vem sua tradição?

Tanto o senso comum quanto alguns grupos bruxos de tradição celta parecem adotar como referência o ícone da bruxa europeia medieval, um misto de sacerdotisa com xamã. Entretanto, estes mesmos grupos bruxos consideram que as bases da bruxaria medieval são pré-históricas e muitas vezes optam pela veneração a deuses cultuados na antiguidade, portanto dentro do período histórico e anteriores ao período medieval, cabendo ainda salientar que mesmo linhagens genuinamente europeias ocasionalmente cultuam deuses não europeus.

O dicionário Aurélio parece apontar especificamente na direção da antiguidade, sugerindo que a palavra bruxa tem origem possivelmente pré-romana, o que nos leva a concluir que o conceito de bruxa veio se alterando ao longo do tempo, bem como as características dos grupos que representavam a bruxaria vieram se transformando. Ademais, em diferentes períodos da história a palavra bruxa foi usada indistintamente para seguidoras de alguma religiosidade pagã, feiticeiras, leitoras de oráculos e curandeiras.

Diante de tamanha confusão de conceitos, seguimos a seguinte convenção:

1) em sentido estrito, bruxas/bruxos seriam:
- as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas europeias praticantes de magia que tenham sido elevadas ao terceiro (e mais alto) grau da bruxaria.

2) em sentido amplo, bruxas/bruxos seriam:
- as pessoas pertencentes a linhagens iniciáticas europeias praticantes de magia que não tenham sido elevadas ao terceiro grau da bruxaria;
- todas as demais pessoas praticantes de técnicas similares às das linhagens iniciáticas europeias mencionadas acima.

Com o surgimento da wicca em 1950, que se constitui numa fusão de bruxaria tradicional com magia ritual, e a divulgação pública de alguns princípios da bruxaria promovida pelo fundador da wicca, Gerald Gardner, e seus primeiros iniciados, podemos demarcar o início formal do neo-paganismo.

A partir de então, cultos pagãos foram retomados nos moldes originais (reconstrucionismo) e diversos grupos bruxos passaram a agregar informações e técnicas de outras origens a suas crenças e práticas, o que se acelerou com a revolução informacional de fins do século XX, mas aqui falaremos em específico de Bruxaria Ancestral, que não se enquadra nem como wiccana nem como reconstrucionista.



Crença Fundamental

A crença fundamental da Bruxaria Ancestral se resume ao seguinte dístico:

"O homem pertence à natureza; a natureza não pertence ao homem."

Muito embora tenhamos por base argumentos racionais para considerar que o ser humano não é mais importante ou melhor que qualquer coisa existente na natureza, este sentimento, que nos leva a rechaçar frontalmente o antropocentrismo característico das mais diversas religiões e grupos de pensamento científico, é tão importante na composição de nossa visão de mundo e tão raro dentre outras formas de religiosidade que acabamos por considerar a igualdade de importância entre todas as formas de manifestação da natureza como uma crença e uma característica distintiva fundamental. Para nós, o homem pertencer à natureza é mais do que uma convicção, é mais do que um postulado científico, é mais do que um princípio lógico ou moral, é um fato trivial sobre o qual construímos nossa visão de mundo, nosso auto-conceito como indivíduos e como espécie e o conceito de tudo o que nos cerca.

Desde meados do século XX se fala em defesa da ecologia. Povos antigos preservavam a natureza e, na óptica utilitarista da civilização atual, considera-se que é importante preservar a natureza em função da necessidade de manutenção da sustentabilidade da vida humana na Terra.

Ao observarem o quanto alguns povos antigos se preocupavam com a natureza, os cientistas seguem a mesma óptica utilitarista ao repetir em coro que os antigos faziam isto porque se encontravam mais que nós à mercê dos fenômenos naturais.

Mais um pouco de atenção e menos antropocentrismo e perceberiam que não se tratava de preocupação com a sustentabilidade da vida humana ou medo da natureza, pelo contrário, as mais diversas tradições parecem acusar a existência de respeito e amor pela natureza, reverência.

Ao longo dos últimos milênios, o ser humano veio criando para si um conceito de ser superior, de ser acima da natureza, e se convenceu de que tal natureza, dissociada de nós, estaria a seu dispôr.

De fato havemos de concordar, boa parte da natureza está ao dispôr do homem, mas temos que acrescentar dois pontos:
1- o homem também está ao dispor da natureza e
2- o homem pertence à natureza.

E isso muda tudo.

Ao criar para si um conceito de "ser à parte de todo o resto da criação" o ser humano parece se esquecer que seu corpo se compõe dos mesmos elementos de que se compõem as pedras, os vegetais e os outros animais; não comenta e evita lembrar que ao desencarnar devolve à terra o que dela retirou; não pensa sobre o fato de as primeiras células de seu corpo, portanto sua própria origem como ser humano, serem resultado de um mero ato sexual; que o mecanismo que leva o ser humano a causar danos ambientais é o mesmo que leva uma nuvem de gafanhotos, por exemplo, a destruir lavouras; que uma só explosão de um supervulcão, e já houve diversas na pré-história e com certeza ainda haverá no futuro, afeta muito mais danosamente o equilíbrio ambiental global do que qualquer ação humana individual ou acumulada desde o surgimento do homem; que muito antes da alvorada dos humanóides, bactérias alteraram a atmosfera terrestre, tornando o ar respirável para nossa espécie, ação esta que somos absolutamente incapazes de executar.

Se o ser humano tem "algo mais" que os animais não humanos ou simplesmente alguma característica própria que não o faz melhor ou pior, esta é uma longa discussão que não cabe aqui, mas independente da resposta permanece o fato de o ser humano (e este só é ser humano enquanto encarnado) não ser mais que uma variável da natureza.

A Bruxa Ancestral não "defende a natureza", ela faz parte da natureza. A maior diferença em relação a muitas outras crenças ecológicas é que estamos conscientes disto, portanto, podemos nos situar junto ao resto da criação e nos irmanar tanto com humanos quanto com os demais animais, com vegetais e mesmo com minerais ou poeira cósmica. Nos entendemos observando a natureza, nos programamos de acordo com a natureza e, ao mesmo tempo, nos damos o direito moral de participar das mudanças ambientais e climáticas porque somos parte do próprio mecanismo da natureza.

Aos que reafirmam que a natureza está a nosso dispôr, e não nós a seu dispôr, como preferimos interpretar, concordamos desde o início que o corpo humano serve ao espírito que nele habita. Se, o que não achamos apropriado, considerarmos uma entidade desencarnada como um homem, negando que ele só é um homem se e quando encarnado num corpo de homem, ou seja, se desvincularmos o espírito do corpo e chamarmos de homem o espírito, então diremos que os elementos do plano físico (inclusive o corpo do homem) servem ao homem (o espírito), mas jamais diremos que a natureza serve a tal espírito, pois a natureza não se resume ao conjunto dos elementos físicos, ela alcança todos os planos do universo manifesto e engloba as relações entre seus elementos e as leis que a tudo regem.

Considerar o ser humano como um ente à parte da natureza limita o campo de busca da verdade ao próprio homem. Integrar-se à natureza, por outro lado, permite ao espírito lançar um olhar para a verdade que está além do alcance do homem.

Muito embora os biólogos não tenham criado um reino específico para a classificação do ser humano, o entendimento equivocado de sua natureza deu origem à antropologia como se tivéssemos comportamentos sociais relevantemente diferentes dos de todas as demais espécies, analisando as interrelações entre humanos a partir de uma óptica única, não aplicável às demais espécies. A antropologia, ainda que tenha seus méritos na compreensão do ser humano, acaba por focar nas diferenças entre este e os demais seres vivos, limitando seus horizontes e reafirmando a ilusão de que somos "mais únicos" que qualquer outra espécie.

Ao ver o ser humano como parte da natureza podemos olhar para nós não através de um espelho carregado de conceitos antropocêntricos e necessidades de auto-afirmação. Podemos afastar nosso ego do objeto de estudo e identificar no ser humano comportamentos sociais (e muito mais) em comum com lobos, com macacos, com gralhas, com formigas, com tubarões, com baleias, com golfinhos, com ratos, com lagartos, com gafanhotos e, num nivel de entendimento mais profundo, com árvores, flores, trepadeiras...

As implicações práticas deste dogma aparentemente tão banal e fácil de aceitar são tremendas tanto para a sociedade quanto para o indivíduo. Deixamos de dar murros em ponta de faca em tentativas vãs e pretensiosas de nos provarmos super-homens de Nietzsche, candidatos à iluminação budista e aprendizes de deuses científico-tecnológicos e assumimos nossa verdadeira natureza na vida pessoal, em nossas famílias, na sociedade, na política, nas relações internacionais, nas relações de trabalho, na defesa de nossos interesses pessoais e coletivos.

Ao nos deixarmos ser abraçados pela natureza, ao identificarmos nossa própria natureza e nos aceitarmos como somos, fluímos a favor das correntezas que movem o Universo e, em troca, nos sujeitamos sem resistência àquilo a que sempre estivemos sujeitos: às leis da natureza que determinam o sucesso e a derrota, a vida e a morte, a preservação e a destruição.

Neste caldo, entendido o ser humano como efetivamente é, não idealizado como um anjo ou demônio, surgem com importância própria e inabalável:

- a prevalência da propriedade privada sobre interesses comunitários ou alheios;
- o direito a defender a integridade física de si mesmo, de sua família, de sua comunidade e seu patrimônio legítimo contra qualquer ameaça;
- o direito de cada nação se defender contra efetivas ameaças estrangeiras por todos os meios de que disponha;
- a liberdade de cada adulto desempenhar atividade econômica;
- a auto-determinação dos povos, representando o contrário da sujeição de um povo à vontade de uma potência estrangeira ou de uma elite diminuta burocrática, militar ou teocrática que se imponha pela força;
- a necessidade de cada adulto adquirir auto-suficiência econômica, produzindo no mínimo aquilo que consumir;
- o direito de cada indivíduo criar os próprios filhos lhes passando os valores, práticas e tudo o mais que tenha permitido a evolução ou manutenção sócio-econômica da família, assumindo a responsabilidade pela manutenção de sua prole até que ela se torne auto-suficiente economicamente e constitua sua própria família;
- o direito de expressão como instrumento formador da própria sociedade, não se confundindo com a desinformação ou modificação de fatos com potencial lesivo à sociedade ou a indivíduos;
- o afastamento do meio social de indivíduos que atentem contra qualquer um dos direitos fundamentais acima expostos, que por si só são derivações das leis da natureza.

Também nos leva a algumas conclusões interessantes que há poucas décadas pareceriam obviedades ridículas, como:

- a espécie humana se divide única e exclusivamente nos gêneros masculino e feminino, cuja finalidade é a preservação da espécie com o desempenho de papéis distintos conforme o gênero na preparação para a concepção, na própria concepção, no cuidado e na criação da prole e em sua preservação, quer o indivíduo apresente as características e interesses naturais de seu gênero ou não, quer o indivíduo desempenhe o papel relativo a seu gênero ou não, quer o indivíduo se reproduza ou não;
- a família é a célula básica da sociedade, sendo composta por pai, mãe e filho(s). Sua função natural é a concepção, criação e cuidado da prole, no interesse da preservação física da espécie humana e de práticas e valores de cada família individualmente que, em seu conjunto, formam o grupo social. Note-se que a sociedade conjugal humana é longa pelo fato de o ser humano necessitar de muito tempo para se tornar auto-suficiente, sendo esta a conclusão do objetivo natural da família, restando o caráter acessório que é, na velhice, um cônjuge cuidar do outro.
- muito embora a caridade tenha seu papel como missão de vida de alguns, a sociedade humana se constitui no interesse de sanar necessidades e desejos de seus elementos, o que requer a produção de bens e serviços que forçosamente respondem a leis econômicas (leis econômicas são leis da natureza, não humanas). Isso significa que: 1) a distribuição de riquezas de quem é auto-suficiente para quem não é auto-suficiente (excluíndo-se os cuidados com a respectiva prole) só existe se imposta à classe produtiva e contribui para a deterioração da sociedade, tornando individualmente cada vez menos interessante e menos útil produzir, tanto para quem é capaz quanto para quem é incapaz de se sustentar por méritos próprios; 2) não se pode revogar ou contestar leis econômicas, portanto, a intervenção direta do estado na economia, o excesso de regulação e o abuso da tributação vinculado à exacerbação dos gastos estatais levam a distorções de mercado fadadas ao fracasso, com o surgimento de mercado negro, mercado paralelo, ágil, deságio, corrupção, perda de competitividade, déficits orçamentários que caminham sempre para o sucateamento da indústria, estagflação e depressão econômica. Noutras palavras, sob o ponto de vista de um bruxo ancestral, o socialismo sempre tende ao totalitarismo, o comunismo sempre é totalitário e o único sistema economicamente viável é o capitalismo de mercado, como decorrência de leis naturais.

No exercício da bruxaria, alguns dos reflexos são:

- levando-se em conta que o objetivo das comemorações sabáticas é entrar em harmonia com o ciclo da natureza, é ilógico e contraproducente celebrar a Roda do Ano pelo hemifério em que não se esteja;
- o espaço sagrado tem forçosamente que representar o local e momento vivido pela natureza em seu entorno;
- oferendas às deidades não são pagamento de um negócio firmado com entidades espirituais por qualquer benefício que se deseje;
- arrancar flores para oferecer à Deusa é como raspar o lindo cabelo de uma mulher para lhe oferecer uma peruca feita com os mesmos fios que já lhe pertenciam;
- nunca, jamais, devemos confundir a Deusa com uma mulher ou o Deus com um homem; não somos deidades, humanos são parte da natureza, deidades são os grandes blocos constituintes da própria natureza;
- assim como na vida profana cabe ao indivíduo buscar sua independência econômico-financeira com o auxílio de seus pais, na bruxaria a evolução espiritual é resultado do próprio esforço e capacidade, com o auxílio de um mestre;
- para ser um aprendiz de bruxo ancestral (peregrino) é necessário, no mínimo, estar seguramente com o pé firmado na auto-suficiência econômica e intelectual, caso contrário, não se poderá consderar que o candidato seja efetivamente amadurecido e tenha razoavelmente compreendido as regras em que se fundamentam a sociedade e a sobrevivência humanas.



Raízes

A Bruxaria Ancestral resgata as raízes pré-históricas da bruxaria de um tempo em que todas as formas de religiosidade se confundiam, milhares de anos antes de a ciência, a religião e a filosofia serem consideradas campos distintos. Representada pela Ordem Sagrada de Bennu, entidade cuja linhagem bruxa remonta a tempos imemoriais pela Tradição Ibérica, a Bruxaria Ancestral agrega conhecimentos de diversas origens, antigos e recentes, formando bruxos em sentido estrito plenamente capazes de aliarem o conhecimento científico atual à sabedoria ancestral.

É anterior ao surgimento das Tradições e, por isso mesmo, a linha que liga todas elas, a chave perdida do significado mais profundo de todas as tradições. Não vem no intuito de substituí-las, mas de contribuir para a construção de uma forma de religiosidade nova e antiga ao mesmo tempo, uma religiosidade que atenda às demandas da civilização que aos poucos sucede à atual, influindo nos mais diversos aspectos da sociedade.

Alguns grupos bruxos, considerando que religião requer uma estrutura institucional centralizada, consideram que bruxaria não é religião.

A Bruxaria Ancestral, por outro lado, entende por religião toda veneração a deidades bem como qualquer conjunto de técnicas, práticas ou conhecimentos que se proponham à religação do homem com a(s) deidade(s). Neste sentido a Bruxaria Ancestral é uma religião, mas se encontra indissoluvelmente ligada à ciência e à filosofia. Ademais, o fato de considerar a natureza sagrada e o ser humano não mais ou menos importante que qualquer parte da natureza faz com que a reintegração à natureza não seja um método de religação do ser humano com as deidades, mas a própria religação, ou seja, o objetivo em si.



Princípios

Pode-se dizer que o único valor da Bruxaria Ancestral é a verdade, e sua ética se resume à busca, à defesa, à transmissão e ao exercício da verdade. Não se trata, todavia, de defesa da sinceridade absoluta nem de dogma, sendo o primeiro o conceito mais corriqueiro da palavra verdade e o segundo o conceito abraçado pela maioria das religiões atuais. Da melhor compreensão do conceito de verdade, derivam os demais valores da Bruxaria Ancestral.

Obviamente, toda definição do conceito de verdade é presunçosa e incompleta, trazendo junto a si uma parte de ilusão. Desta forma, divulgar um conceito de verdade é também divulgar sua parte de ilusão, o que, paradoxalmente, protelaria a descoberta da verdade. O extremo oposto, a não definição do conceito da verdade, consiste em omissão e contraria a própria razão de ser e significado da Tradição, portanto, qualquer círculo que atue conforme a Bruxaria Ancestral não impõe dogma, mas estabelece linhas gerais de conduta. Ao mesmo tempo, o Sumo-Sacerdote/Sumo-Sacedotisa e/ou o Conselho de Anciãos, se houver, observa em cada adepto o florescimento de atitudes que, conforme seu entendimento, evidenciem avanço no conhecimento da verdade e, na proporção de tal avanço, concede informações adequadas ao patamar atingido pelo adepto em termos de: 1) esforço pessoal na busca do conhecimento e 2) exercício prático do que ele entende por verdade.

    Conhecimento, Divulgação e Exercício da Verdade

A verdade está além do conhecimento. Podemos conhecer fatos e compreender teorias, mas o conhecimento precisa ser vivido, sentido, precisa fazer parte do conhecedor para se converter em verdade. Se a verdade for sentida, vivida, se fizer parte de quem sente, é verdade sem precisar ter sido antes conhecimento, mas o conhecimento que ignora fatos e sentimentos jamais poderá ser considerado verdade, não passando de teoria ou presunção. Assim ocorre com os homens de ciência que se negam a considerar fatos que não se encaixam em seus modelos, as chamadas "anomalias"; assim ocorre com os filósofos que criam sistemas mas não os implementam, perdendo-se em intermináveis discussões cujo benefício se limita ao exercício mental; também ocorre com os religiosos que se agarram a dogmas e os colocam em oposição à ciência e a outros credos.

Tais atitudes fecham as portas para a verdade, são mentiras que se contam no mais íntimo da mente, como se alguém pudesse crer em algo que parece fazer sentido mas que, posto em prática, não funciona; como se alguém pudesse acreditar em algo que sente que está errado, mesmo fazendo sentido e funcionando; como se alguém, em qualquer momento, tivesse domínio tão amplo da verdade a ponto de poder acusar multidões de estarem completamente erradas em suas respectivas crenças. Em algum lugar de seu íntimo deve viver uma inquietação, sufocada pelo hábito e pelo discurso, escondida no mais profundo com o auxílio de seus pares, que sofrem do mesmo mal.

Assim como os povos antigos, a Bruxaria Ancestral não fecha suas portas à verdade nem busca impor verdades pessoais (e, portanto, fragmentárias) como se fossem absolutas. Ao contrário, absorve tudo o que ajudar no processo de conhecimento da verdade e é extremamente flexível a percepções pessoais genuínas.

Se o objetivo é chegar à verdade, não podemos partir do princípio de que já a conhecemos em absoluto. Seria, no mínimo, um contrasenso...

E àqueles que se consideram detentores da verdade absoluta, o que dizer? Lhes perguntar se o conhecimento absoluto da verdade não é o bastante para convencer seus irmãos "menos privilegiados" de que estão completamente errados em suas respectivas crenças? Questionar se o conhecimento absoluto da verdade não seria o bastante para que sua mera presença na Terra iluminasse a todas as criaturas? Ou ainda lhes perguntar como alguém tão elevado pode estabelecer contato com criaturas tão ignorantes como nós?

Melhor não questionar e deixá-los viver suas próprias experiências, pois, cedo ou tarde, elas os levarão a descartar tais ilusões de grandeza e a retomar seus caminhos ao encontro da verdade.

A própria ciência chegou à compreensão de que a observação altera o resultado do evento. Como não concluir, então, que nos infinitos processos de conhecimento da verdade haverão infinitas verdades elevadas à potência?

Os filósofos, por sua vez, evocariam Platão, nos dizendo que o real não se confunde com o ideal. Concordamos com eles e não vemos conflito, pois é plausível considerar o ideal da dicotomia platônica como a própria verdade, e o real, como o limitado conhecimento da verdade que cada um consegue auferir individualmente, mesmo quando este conhecimento se apresenta em forma incorpórea, como a percepção de cada uma das muitas teorias da ciência, de cada um dos muitos sistemas filosóficos e de cada uma das muitas crenças religiosas.

Obviamente, apesar de parciais, as visões sinceras da verdade, ou seja, as que não ignoram fatos e percepções pessoais, devem sempre tender à convergência, e não ao conflito.

A única forma de atingir a verdade absoluta, e a isto deveria se render até mesmo a mecânica quântica, seria observador e observado serem um só, o que preteriria o uso de qualquer capacidade sensorial. Portanto, até que atinjamos a perfeição e sejamos absorvidos pelo Todo, toda verdade que evocamos é pessoal e incompleta.

Sem a ação coerente com a visão da verdade conquistada e sua divulgação, o conhecimento da verdade se detém e, estagnado, deteriora. Ninguém pode estar verdadeiramente consciente daquilo que não pratica, nem atingiu um dos patamares mais elementares do conhecimento da verdade quem não se apercebeu da importância de passar tal verdade a quem procura e está pronto a aprender o conhecimento obtido.

O conhecimento, a divulgação e o exercício da verdade, na Bruxaria Ancestral, se confundem, como tres faces de um mesmo prisma.

    Livre-Arbítrio

Se chegarmos à compreensão de que mesmo um espírito iluminado, um mestre do mais alto grau, tem uma visão limitada da verdade e/ou que não se pode transmitir a visão da verdade de uma pessoa para outra sem grande desgaste do conteúdo, havendo ruídos de toda a espécie em qualquer forma de comunicação, tentar impor uma visão da verdade a quem quer que seja é mera demonstração de ignorância acerca de sua própria ignorância, de incapacidade de aprender, de estagnação ou degenerecência do processo de aprendizagem. Pode-se, e cremos que deve-se, estar plenamente convicto da verdade sem apegar-se a ela e sem presumir que visões aparentemente conflitantes com tal verdade estejam erradas. Na maior parte dos casos, conforme nossa experiência, as divergências entre credos ou teorias são: 1- semânticas; 2- preconceituosas; 3- mero fruto da ignorância mútua de informações/dados pertencentes a áreas de especialização diferentes; 4- resultado das muitas lacunas entre visões da verdade.

O livre-arbítrio como valor, para a Bruxaria Ancestral, assume, portanto, uma dimensão bem maior que a simples "não imposição". Trata-se do reconhecimento de que há alguma verdade no fundo de toda crença sincera, por mais louca que ela aparente ser, e da fixação do veio central de nossa busca na verdade que não conhecemos, e não na preservação da verdade que já conhecemos.

Este último pensamento pode parecer estranho à Tradição, mas na verdade tal pensamento se encontrava na base do que viria a se tornar cada uma das muitas tradições, e ao longo do tempo se perdeu.

O livre-arbítrio é também observado como a auto-avaliação, o julgamento do próprio executor do ato, levando-o às experiências necessárias para seu crescimento espiritual. Interferir numa escolha pessoal é, portanto, interferir no destino que a pessoa traça para si mesma, é negar uma experiência que a pessoa considera (na maioria das vezes não conscientemente) que precisa viver.

O desrespeito ao livre-arbítrio, mesmo sob a mais bem intencionada das bandeiras, é mera ilusão. A imposição se limita à esfera física, ou seja, pode-se obrigar alguém a praticar ou deixar de praticar os ritos de uma religião, ou ainda a deixar de cometer crimes, por exemplo. Mas isto não tornaria o praticante da religião em adepto nem o criminoso numa pessoa com espírito comunitário. O recurso da imposição pode ter efeito prático para a comunidade, mas não para o indivíduo.

A Bruxaria Ancestral mantém suas portas fechadas, impedindo que aqueles que não estão preparados e/ou não comungam com nossas crenças básicas tenham acesso a nossos conhecimentos; mas todo aquele que estiver preparado e, no exercício consciente de seu livre-arbítrio, escolher comungar com nossa visão da verdade, terá a chance de obter uma chave.

A compreensão do livre-arbítrio sob esta óptica nos permite, ao mesmo tempo que fechamos as portas às pessoas que desejam apenas pinçar em nossas fontes informações para uso prático para fins estranhos à nossa visão da verdade, escancará-las a novas idéias, conceitos e práticas, desde que se revelem coerentes com nossa verdade. Assim, a visão que temos pode crescer e se aprofundar, sempre se pautando pelo entendimento, pela concordância, pela aproximação, e não pelo conflito ou divergência.

Livre-arbítrio não é escolher entre "certo e errado", livre-arbítrio é traçar seu próprio caminho mesmo quando o caminho escolhido for o de muitos outros. Para a Bruxaria Ancestral não existe certo e errado, existem apenas caminhos mais longos e mais curtos, mas cada um tem o seu caminho a percorrer, todos eles com muitas idas e vindas ao sabor dos ciclos. Por vezes corremos, por vezes andamos lentamente, por vezes tomamos atalhos e depois retornamos para resgatar o que ficou para trás, mas como diria Nietzsche, o homem é uma ponte entre o ultraterreno e o super-homem, e tem de se manter sempre em movimento para não cair desta ponte. Talvez possamos apenas acrescentar que este super-homem que almejamos ser torna-se, a cada passo, diferente, mantendo sua distância de nós até atingirmos a perfeição (e sermos absorvidos pelo Todo). Da mesma forma, o ultraterreno é o modelo ultrapassado, mas a cada passo o ultrapassado se torna outro, e assim se preserva a distância para trás da mesma forma que a para a frente à medida que caminhamos. Dentro desta metáfora, o exercício do livre-arbítrio é o caminhar. Sem ele, podemos ter a ilusão de estarmos seguindo junto com a correnteza, mas na verdade estamos estagnados, estamos cegos, pois o que não é feito sem surgir a partir de seu mais profundo íntimo é feito mecanicamente, e o que é feito mecanicamente não é transportado ao espírito. Se não tomamos as rédeas de nosso destino, se não fazemos escolhas e as delegamos a outrem, seja a um lider espiritual ou a um dogma, não estamos nos aproximando de verdade alguma, nosso corpo se move, temos sensações mas somos sempre os mesmos. É da crítica ao dogma e da tentativa de compreensão do que nos diz o mestre, mesmo quando o mestre é a própria natureza, que surge a luz.

Por fim, percebemos quão intimamente relacionados estão o livre-arbítrio e a verdade. Praticar o livre-arbítrio é buscar, se aproximar e concretizar a verdade.

    Superação de modelos de Bem e Mal

Vinculado à questão do livre-arbítrio, a bruxaria ancestral considera que modelos baseados na polarização bem/mal e certo/errado são definidos por fatores conjunturais, podendo levar assassinos a serem considerados heróis, moralistas a serem considerados imorais, pessoas muito bem sucedidas a serem consideradas aberrações. Tudo depende do contexto, do momento histórico, da cultura local, dos interesses, dos valores sociais, do "lado" no qual se encontre e fatalmente tudo isso muda. Aqueles que assassinaram Bin Laden são, paradoxalmente, considerados heróis pelos norte-americanos; Discursos de Abraham Lincoln, se proferidos hoje, seriam inegavelmente considerados racistas; O treinamento vinculado à prestação de trabalho infantil, visto com muito bons olhos no início da industrialização, hoje seria considerado imoral e ilegal.

Considerando esta inconstância dos modelos certo/errado, bem e mal ou, por que não dizer, pela inconsistência de tais modelos, a bruxaria ancestral os rejeita, considerando que todas ações e julgamentos, embora possam parecer desarmônicos, tendem a refluir. Para os bruxos não há pecado, punição divina ou prêmio, mas ação e reação, atos e consequências. Desta forma, nos submetemos às leis pelo dever, não por recriminações pessoais ou coletivas.

Submersos na cultura do certo e do errado, crescendo sob o julgo dos imperadores da razão, o homem (sobretudo o ocidental) tem imensa dificuldade em se livrar de tais modelos. Superar tais modelos é um ponto indispensável para a real compreensão do espírito da bruxaria ancestral, ao mesmo tempo que é uma das características mais exclusivas desta religião.


Festivais

A bruxaria ancestral não considera a passagem do tempo de forma linear, ou seja, não considera que o tempo se acumula, mas que ele gira como uma Roda, que ao longo da translação da Terra ao redor do Sol repassa por cada um dos mesmos velhos pontos. A esta Roda, chamamos Roda do Ano, e ela é dividida em oito períodos marcados pela comemoração de quatro grandes sabates (com datas fixas) e quatro pequenos sabates (em solstícios e equinócios), que apresentamos adiante. Ao mesmo tempo, são comemoradas até treze lunações, através de esbates. Apesar do sistema diferente, o calendário gregoriano também foi feito com base em fenômenos astronômicos, e nos serve de referência na identificação das comemorações dos grandes sabates. Fixamos, entretanto, a data de início 20.000 anos antes do século profano em que entramos na Era de Aquário, época em que a bruxaria era a referência comum a todos os povos da Terra.

Esbates

As três faces da Deusa se apresentam sucessivamente à medida que a Lua cresce e decresce no céu. Assim, ao longo de uma lunação, há o momento de plantar, de colher e de ceifar. A cada Lua Cheia realizamos um esbate para acertarmos o ritmo de nossas vidas com a natureza, mas nada impede que um círculo que adote a Veneração Ancestral, por algum motivo específico, celebre ocasionalmente também alguma outra fase da Lua, muito embora aconselhemos não celebrar a Lua Negra (quando a Lua está do outro lado da Terra durante a noite).

Sabates

O intuito de celebrar sabates e esbates é ajustarmo-nos ao movimento da Roda do Ano, ou seja, vivermos em nossas vidas a estação que o resto da natureza vive, a cada momento. Neste sentido, adotar a Roda Egípcia seria ineficaz, pois a cheia e a vazante do Nilo não influem em outras regiões do planeta. Da mesma forma, para quem está no hemisfério sul, celebrar os sabates nas datas celebradas no hemisfério norte não ajudaria a se colocar em fase com o Ciclo da Natureza, pois quando é verão em um hemisfério, é inverno no outro. Optamos, portanto, pela comemoração dos sabates de forma similar à da Roda do Ano Celtíbera e conforme o hemisfério no qual estivermos.

Mesmo pessoas não iniciadas e de quaisquer credos podem comemorar os sabates e se beneficiam de tais comemorações de forma semelhante à dos bruxos. Para fazê-lo, basta observar as características de cada período conforme sintetizado abaixo, promover reuniões festivas com os amigos e/ou família e servir preferencialmente alimentos naturais que abundem exatamente naquela época.

A decoração também deve ser compatibilizada com a época, portanto arranjos com folhas secas são perfeitos para a Festa das Graças (outono), flores para a Festa da Primavera, velas para Candelárias e assim sucessivamente.

Tempo dos Idos (1º/mai no hemisfério sul e 31/out no hemisfério norte) - O ano bruxo se inicia no frio e escuro meio do outono. Nesta data se celebra o Tempo dos Idos, conhecido pela tradição celta como Samhain. Na verdade, no dia deste sabate se considera que o ano acaba, mas por três dias o outro ainda não começa. E como se passa a estar fora do ano que se foi e o outro ainda não começou, trata-se de um período fora do tempo, onde vivos e mortos, bem como seres naturalmente desprovidos de corpo físico, podem se encontrar.

Festa do Inverno (20 a 23/jun no hemisfério sul e 20 a 22/dez no hemisfério norte) - A Festa do Inverno, Yule, pela tradição celta, é comemorada no solstício de inverno, menor dia do ano, mas justamente por isso é o momento de renascimento do Sol, ou seja, a partir da celebração da Festa do Inverno os dias começarão a crescer. É, por assim dizer, o "natal" dos bruxos, com diversas semelhanças entre as celebrações destes diferentes credos, dentre as quais podemos elencar: a) Árvore do inverno - É usada como adorno na Festa do Inverno uma árvore enfeitada com quaisquer elementos alusivos ao inverno (flocos e bonecos de neve) e esferas douradas/branco amareladas alusivas ao sêmem de Kher-Nun contrastando com outras prateadas/vermelhas representando o sangue virginal/menstrual de Hator; b) Bruxa Befana - À semelhança do Papai Noel cristão, sobre a lareira ou uma bancada é colocada a imagem de uma bruxa idosa e obesa e sob ela grandes meias, cada uma pertencente a uma criança/pessoa presente à festa. Os que se comportaram encontrarão em sua meia doces, os que não se comportaram durante a Roda encontrarão pedaços de carvão; c) Partilha - A refeição de Inverno é baseada em alimentos calóricos e preparada por todas as famílias que participarem da celebração. Assim como no Natal cristão a Festa do Inverno é um momento de congraçamento e troca de presentes, todavia, no caso dos bruxos estes presentes costumam ser pequenas lembranças elaboradas pelas próprias pessoas, desde peças de artesanato até compotas.

Festa das Candelárias (1º/ago no hemisfério sul e 2/fev no hemisfério norte) - Na noite que prescede Candelárias, os bruxos carregam velas acesas em procissão, representando a vida que começa a ganhar força sob a neve, a luz que ainda é fraca para afastar o frio e as trevas, mas que já se encontra em seu caminho. É um tempo de renovação das esperanças.

Festa da Primavera (20 a 23/set no hemisfério sul e 20 a 23/mar no hemisfério norte) - Os sinais que, em Candelárias, eram vistos apenas pelos sábios, se tornam visíveis a todos com o equinócio de primavera. A vida já começa a florecer, e os bruxos celebram o efetivo retorno do Sol. É a páscoa dos bruxos, e os elementos que a representam são os mesmos: ovos e lebres, respectivamente símbolos da origem da vida e da fertilidade.

Beltane (31/out no hemisfério sul e 1º/mai no hemisfério norte) - Abrindo a Metade Clara da Roda do Ano. O Sol se encontra jovem e forte, fertilizando os campos e aquecendo nossos sentimentos. De dia, o mastro de maio é levantado e as crianças dançam ao redor dele com fitas coloridas que se entrelaçam. Nas comunidades bruxas, uma música é tocada e uma fila de festejantes entra e sai das casas dançando, levando alegria e boa sorte a todos. À noite, os adultos acendem uma grande fogueira e dançam ao redor dela assim como a Terra gira em torno do Sol. Celebram o calor e o amor, casais se amam ao luar, pulsando a energia da vida que abunda neste dia/noite especial.

Festa do Sol (20 a 23/dez no hemisfério sul e 20 a 23/jun no hemisfério norte) - No solstício de verão se comemora a plenitude do Sol. O sabate chamado Litha pela tradição celta é caracterizado pela abundância de alimentos, pois se trata da época da primeira colheita. É o momento em que as bruxas colhem suas ervas especiais, pois trazem com elas o máximo que poderiam absorver do poder solar. Embora seja também um momento destinado aos prazeres, ao contrário de Beltane, a Festa do Sol marca o auge e, em consequência, o início do declínio do poder solar, pois a partir do solstício de verão os dias começam a se tornar mais curtos. Portanto, deve-se aproveitar a Festa do Sol para marcar firme na lembrança seu maior esplendor e tudo aquilo que ele proporciona, para que, em momentos de dificuldade, tenhamos um horizonte menos sombrio ao olhar para o futuro.

Festa da Cornucópia (2/fev no hemisfério sul e 1º/ago no hemisfério norte) - Conhecido como Lammas, pela tradição celta, na Festa da Cornucópia a mesa é farta, abastecida pela principal safra do ano. Colhem-se os frutos deixados pelo Sol e se comemora a abundância, centrando-se nos prazeres gastronômicos.

Festa das Graças (20 a 23/mar no hemisfério sul e 20 a 23/set no hemisfério norte) - No equinócio de outono se comemora a última colheita. A tradição celta chama a este sabate de Mabon. Agradece-se à Deusa e ao Deus pelo que nos proporcionaram e, quem pode, partilha alguns víveres com aqueles que tiveram menos sorte, mas todos nos preparamos para a virada da Roda, pois no sabate seguinte começa a Metade Escura. Os dias já se tornaram menores que as noites, e o Sol, assim como a vida, logo começará uma espécie de período de hibernação. Uma boa forma de comemorar o início deste período sabático é chamar os amigos para partilhar uma refeição, cada um levando um prato diferente.



Prática

A rotina da Bruxaria Ancestral não difere muito da de outras vertentes de Bruxaria Tradicional. Comemoramos sabates e esbates para facilitar caminharmos de acordo com o fluxo da natureza, meditamos e estudamos, visando nossa evolução espiritual e, eventualmente, praticamos diversas modalidades de magia, não para prejudicar outras pessoas, mas para interceder a favor de seu aprendizado e promover o bem comum.

Consideramos que, assim como ocorre com a acumulação de qualquer tipo de poder, a responsabilidade de usar a magia é tão grande quanto o poder mágico que se obtém. Poder agir e não agir é tão danoso quanto errar ao agir. Todavia, para julgarmos corretamente se e quando devemos interferir no desenrolar dos fatos, seja através de magia ou não, é preciso observar a questão por uma óptica expandida, ou seja, considerar não o sofrimento imediato da(s) pessoa(s) envolvida(s), mas a utilidade da experiência pela qual ela está passando para seu aprendizado. Tendo isto em mente, é absolutamente inadequado aplicar os conceitos de bem e mal cristãos para decidir quando, como e se devemos intervir no que se passa.